“A obsessão contemporânea é a luta pela moeda invisível que fixa o valor de cada indivíduo aos olhos da sociedade: o status.”
(Alain de Botton – filósofo e escritor suíço)
A ansiedade que todo homem moderno tem de estar sempre um degrau acima dos seus semelhantes faz com que todo o tempo de uma vida seja dedicada exclusivamente à busca do sucesso. Busca estimulada por expectativas irreais: Eu posso ser tão rico quanto meu vizinho, ou meu vizinho não pode ser tão rico quanto eu. Essa busca pelo sucesso pode ser positiva, mas também gera frustrações perigosas.
As raízes da angústia e da frustração não estão na desigualdade social do mundo moderno, mas, pelo contrário, em sua natureza mais igualitária. Na Idade Média, os nobres eram sustentados pelos camponeses miseráveis, a desigualdade era muito maior que a atual, no entanto, ninguém sofria da tal angústia de status. O lugar de cada um na hierarquia social estava bem estabelecido por uma consoladora atribuição divina. Era mais fácil conformar-se com a pobreza então.
A transição ocorreu a partir da Revolução Industrial, no século XVIII, para uma concepção mais dinâmica da sociedade – a ideia de uma “meritocracia”, em que a posição social não seria hereditária, mas resultado direto do mérito de cada indivíduo. Nesse novo mundo, a pobreza passou a ser vista como uma imperdoável falha de caráter. “Cada vagabundo bêbado ou preguiçoso sustentado por esmolas é uma fonte de contágio moral”, dizia, nas primeiras décadas do século XX, o magnata escocês-americano Andrew Carnegie.
A angústia não se encontra só abaixo da linha da pobreza. O sucesso, por maior que seja, traz a necessidade de mais sucesso. Por essa razão, muitas pessoas que já são ricas continuam dedicando todo o tempo de suas vidas na busca de mais riqueza.
De modo geral, a angústia de status se manifesta como uma insegurança a respeito do próprio valor individual. O angustiado precisa reafirmar sua autoestima com recursos, digamos, artificiais. O consumismo, por exemplo, é uma dessas muletas: carros de luxo e computadores de último tipo sinalizam o sucesso financeiro de seus proprietários.
Por essa razão, as pessoas estão dedicando todo o tempo de suas vidas em busca do ganho material, sem perceber que, com isso, estão deixando de viver.
O aplauso da opinião pública e o sucesso econômico não são as únicas formas para medir o valor de uma pessoa. Dinheiro não é tudo.
Uma teoria sobre o motivo que leva as pessoas a procurarem obcecadamente o status elevado, o dinheiro, a fama e a influência é que estamos buscando amor.
Nosso sucesso na hierarquia social pode não estar tanto nos bens que possamos adquirir ou no poder que possamos exercer, mas na quantidade de amor que recebemos como consequência de nosso status elevado. Dinheiro, fama e influência podem ser formas de se chegar ou de se obter amor.
O impacto do status baixo não deve ser interpretado somente em termos materiais. Raras vezes a punição, pelo menos acima dos níveis de subsistência, está somente no desconforto físico. Ela também reside, principalmente, no desafio que o status baixo impõe ao senso de respeito próprio. Pode-se enfrentar o desconforto sem queixas por um longo período quando ele não é acompanhado da humilhação.
Da mesma forma, os benefícios do status elevado raramente se limitam à riqueza.
Não devemos nos surpreender se encontrarmos muitos que já são ricos continuando a acumular somas que superam o que cinco gerações poderiam gastar. Seu empenho só é peculiar se insistirmos em um raciocínio estritamente financeiro por trás da criação de riqueza. Eles procuram não só o dinheiro, mas o respeito que supostamente deriva de sua acumulação.
Todos nós ansiamos por dignidade e, se a sociedade oferecesse amor como recompensa ao acúmulo de riqueza, não hesitaríamos em dedicar todo tempo de nossa vida a essa conquista.
A questão para refletirmos é: estamos desfrutando o tempo de nossa vida ou dedicando todo ele a uma busca incessante pelo status e pela riqueza?
Por Rodnei Domingues